quinta-feira, 18 de março de 2010

Eu tive uma ideia

Eu tenho certeza de que tive. Eu sempre tenho idéias, não necessariamente inteligentes, afinal eu não sou chico. Pro meu pranto e tristeza (ou não) elas vão como vêm, num piscar de olhos, ou melhor: num salto quântico. Uns bilionésimos mais rápido...

Eu tenho problemas com memória recente. Sabe o que é se esquecer todo dia no banho se você já usou o shampoo (Xampu, champô, pára de me corrigir blogger!)? Eu fico imaginando a quantidade de desperdício que eu já não gerei...

O fato é que eu faço duas viagens de ônibus por dia ao longo da semana útil, e pensar é o que tenho pra me distrair. Me considero um sujeito antiquado, eu não costumo andar por aí com um tocador de mp3 ou um um celular cheio de aplicativos. Escolha minha, eu me divirto com a minha mente.

Eu penso sobre as pessoas, as coisas, sobre as varizes da mulher no banco ao lado...

Somadas às sandálias gastas, eu diria que ela anda bastante por aí. Uma pasta azul com alguns papéis em mãos, deve estar correndo atrás de algum processo ou resolvendo um problema no banco (elas sempre estão resolvendo problemas no banco). Coitadinha, não tem quem a ajude. Do outro lado a janela, ah, a janela.

Eu adoro a janela. Alguém se sentou do meu lado, me impedindo de descobrir mais pontos interessantes no meu trajeto.

Argh.

Voltei à mulher, sandálias, piso. O piso. Se é que eu podia chamar de piso. Umas chapas de algum metal cujo nome os meus conhecimentos de química não me permitem dizer. Lado a lado afixadas por uns parafusos dispostos de modo aleatório.

Será que existe um padrão para as distâncias entre eles? Provavelmente não. Será que as chapas já são mandadas parafusadas? Hum...

E, nesse ponto, me veio à cabeça uma longa de sequência de imagens que envolviam funcionários do terminal rodoviário e indústrias que fabricam chapas de metal para fundo de ônibus.

E essas marcas em alto-relevo? Ah, pra aumentar o coeficiente de atrito, função anti-derrapante. É claro que todo aquele barro (as aulas de solos me obrigariam a dizer silte-argiloso um dia) percolava entre os vazios das marcas, tornando tudo plano e portanto reduzindo seu efeito. Isso é que eu chamo de terraplanagem.

Eu juro que uma pequena parte de mim estava dizendo: que diabos é isso? O que você está fazendo? Mas eu não pude evitar, eu era todo do chão agora. Eu tinha muitas questões a levantar. Eu falava do barro...

Da onde veio aquilo tudo? A mancha uniforme indicava que tudo fora depositado de uma vez só. Um passageiro com um saco de barro? Vento forte em ruas não pavimentadas? Sandman???

Existe um sistema de transporte público aqui, no Espírito Santo, que cobre toda a região metropolitana: o sistema transcol. Eu não devo conhecer nem 20% dos lugares por onde o meu ônibus passa.

Eu podia ainda estar errado e aquilo era de fato poeira dispersa, que foi se aglomerando aos poucos graças 297 mil pés que se aventuravam por aquele ônibus ao longo do dia?

Uma coisa foi puxando a outra. Eu estava vidrado. Nunca achei que algo como o chão do ônibus pudesse me levar pra tão longe. E, de fato, ele levou.

Espera um pouco...
Legal meditar sobre o chão e zás...
Mas não é o meu ponto ali ficando pra trás?

5 comentários:

Tuka disse...

"...sobre as varizes da mulher no banco ao lado... "

que tenso!
eu não fico reparando esse tipo de coisa nas pessoas... não verdade eu não reparo na fisionomia e tal, mas sim no que elas falam, cada conversa bizarra que você ouve no ônibus, tem vezes que eu saio traumatizada.
Eu sou uma dessas pessoas que ficam ouvindo música, ok? mas nem por isso eu deixo de pensar e refletir sobre a vida, ou coisas inúteis (?) como a banquinha de jornal que trocou as revistas da vitrine...
sei lá, ultimamente o caminho tem sido cada vez mais rápido, nem noto quando está na hora de descer, aiai.
Enfim, gostei do post :)

Unknown disse...

Eu acho que as chapas não são mandadas parafusadas, não. O.o
E do jeito que você é distraido, Eduardo, você deve conhecer bem menos do que 20% u.u'

Míope sem óculos disse...

Caracas! Achei que eu era a única pessoa estranha que reparava coisas estranhas...

Eu me flagrei pensando na linha de produção de ônibus com seus braços mecânicos, um dia desses... só porque quando olhei para aquele alumínio fedorento e sujo que nós temos que segurar, reparei num parafuso estrela e fiquei me perguntando se eram homens com essas parafusadeiras elétricas que faziam o serviço ou os braços mecânicos... mas aí eu olhei para a janela e fiquei pensando: "como será a linha de produção de ônibus"? E imagens do jornal nacional mostrando indústrias brotaram na minha cabeça, me deixando com cara de retardado olhando para a janela e me fazendo esquecer a minha indagação inicial.

Renato disse...

"eu era todo do chão agora" heheheh, muito bom. Não tenho mais nada para lhe ensinar rsrs

Anônimo disse...

Li, como prometido. De fato, os críticos estavam certos. Tá a sua cara essas viagens, e muito bem expressas. Ainda prefiro o Chico. Mas o Guri do Chico, segundo o próprio, o Buarque, não chegou Lá? Então, o Lá te espera.

Postar um comentário